lizette lagnado: Falemos um pouco do “Monumento Bataille”, de 1992. Bataille sempre defendeu “a experiência interior” com relação à exigência de uma comunidade: “Se eu quero que minha vida tenha um sentido para mim, é necessário que ela tenha um sentido para outrem”. Podemos estar de acordo com Blanchot, que invoca Nietzsche para lembrar-nos que a comunicação é um rasgo?
hirschhorn: Eu não preciso de Filosofia para o meu trabalho de Artista, preciso de Filosofia para viver e prego a amizade entre a Arte e a Filosofia. Quero trabalhar para esta amizade e quero então tentar explicar o que eu quis fazer com o “Monumento Bataille”. Não se tratava de ilustrar o pensamento de Georges Bataille e não me situo no campo da Filosofia. Esse trabalho é dedicado a Bataille, de quem sou fã. Ele é para mim ao mesmo tempo um modelo e um pretexto, pois ser um fã me permite utilizar o mundo das formas dos fãs. O fato de ser um fã me liga a outros fãs, o fã de uma equipe de futebol ou o fã de uma cantora.
O “Monumento Bataille” é uma experiência, uma experiência pessoal que fiz paralelamente a outras. Penso que fazer Arte é um ato de solidão -mas não se trata de uma solidão narcisista ou depressiva, trata-se de uma espécie de tentativa solitária para resistir. Quero resistir à tentação do consumo e quero resistir à tendência de tornar as coisas mais lindas do que elas são. Fiz o “Monumento Bataille” por causa somente do texto, sublime, “A Noção de Despesa”, publicado no livro “A Parte Maldita”. Fiz também esse trabalho por causa das reflexões de Bataille sobre o Homem Acéfalo.
Bataille, enquanto pensador da transgressão, com seus escritos sobre o princípio da perda, do dom, da sobrecarga e do excesso, é primordial para mim. Pensei: há um trabalho a ser feito -um trabalho de forma-, um trabalho que almeja o impossível, que quer mais do que o possível. Eu quis fazer um trabalho com amor, sem respeito. Quis fazer um trabalho determinado e quis assumir o fato que essa determinação ultrapasse às vezes o que eu quis.
Com o “Monumento Bataille” quis dar forma a um Monumento que funciona como uma máquina, uma máquina que carrega, que produz e cria alguma coisa. O “Monumento Bataille” quer produzir amizade e sociabilidade, quer oferecer saber e conhecimento, o “Monumento Bataille” quer criar diálogos e confronto e o “Movimento Bataille” quer permitir a criação dos elos e das conexões. Estou interessado pelos múltiplos sentidos que pode ter um Monumento. Estou interessado pela complexidade do campo de força que vem de um Monumento. O “Monumento Bataille” quer ser um outro gênero de Monumento.
trechos da entrevista publicada no trópico.
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